O cenário à frente é desafiador. Segundo estimativas dos economistas, a taxa Selic pode saltar para a casa dos 13% até o final do ano, o que deve pressionar ainda mais o custo do crédito. Mas para o setor de consórcios, essa não é, necessariamente, uma má notícia. A venda de novas cotas cresceu 15% em 2021, avanço já, em partes, influenciado pela virada nos juros.
“Em 2022, poderemos repetir o bom desempenho alcançado em 2021. Importante lembrar que, apesar das projeções para 2022 indicarem recuo nos índices inflacionários, ainda assim teremos patamares relativamente altos de inflação, o que mantém o consumidor mais cauteloso ao adquirir bens e serviços", afirmou Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC).
O número total de novas adesões chegou a 3,4 milhões em 2021. Veja abaixo o histórico do setor:
Embora tenham a mesma finalidade (a aquisição de bens e serviços), os consórcios e as linhas tradicionais de financiamento são produtos financeiros completamente diferentes. A primeira diferença é quanto ao prazo: o crédito serve para uma aquisição imediata, enquanto o consórcio, em geral, atende a propósitos de maior prazo.
A comodidade do dinheiro disponível imediatamente tem um custo: os juros. Já no caso do consórcio, os acréscimos se dão em razão da taxa de administração e dos reajustes inflacionários. Os consórcios de imóveis, por exemplo, têm as parcelas e o valor da carta ajustados pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Já os consórcios de veículos são ajustados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A questão é que a inflação disparou nos últimos meses e gerou uma pressão adicional para o pagamento das parcelas de consórcios. Apesar de não sofrerem incidência direta dos juros, os contratos do segmento estão sujeitos a reajustes de até dois dígitos, em razão da alta dos preços – não é por acaso a preocupação do presidente da ABAC sobre a inflação em 2022.
Veja abaixo o desempenho dos principais índices de inflação que corrigem as parcelas dos consórcios:
O fato do consórcio ter navegado bem durante momentos turbulentos tem a ver justamente com o histórico de juros altos no Brasil. Ciclos, como o atual, acabam "empurrando" parte das famílias brasileiras para os consórcios, inclusive para a aquisição de produtos e serviços de menor valor.
Ainda de acordo com dados da ABAC, o número de participantes de consórcios para aquisição de serviços aumentou 22% em 2021. Os consórcios de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e bens duráveis cresceram ainda mais, chegando a uma captação de clientes 51% maior do que em 2020.
Em volume total, os segmentos mais tradicionais, como automóveis, motos e imóveis ainda são os que angariam mais participantes, mas o crescimento das categorias de produtos e serviços de menor valor são um indício do afunilamento do mercado de crédito tradicional.
O crescimento do número de adesões aos consórcios é comemorada não só pelas empresas que comercializam os produtos, mas também pela indústria de bens e serviços ofertados.
Ainda de acordo com os dados da ABAC, uma em cada duas motos vendidas em 2021 foi para um consorciado, e entre os veículos leves, a proporção foi de um a cada três. Nos imóveis, a participação do setor é menor, de cerca de 10%.
Apesar disso, a alta dos juros deve ampliar essa fatia.
A expectativa do mercado é de dobrar as vendas para este ano, pelo menos. A alta da Selic com certeza vai interferir no negócio, mas de uma maneira positiva: enquanto os financiamentos ficam cada vez mais caros, o consórcio segue com sua taxa fixa, o que fortalece ainda mais produto.