Estilosa como uma clássica, entretanto, apimentada e estável como uma naked. A Kawasaki Z 650 RS é uma moto que chama a atenção pela proposta e também pelo visual retrô, mas será uma boa opção quando consideramos fatores como desempenho, consumo e preço? É o que colocamos à prova neste teste completo.
Dizem que o brasileiro é saudosista. Que guarda um carinho especial às coisas do passado, aos ‘bons tempos’ de outrora. Talvez por isso as motos com apelo retrô estejam encontrando aqui um solo tão fértil e a Z 650 RS está entre as mais recentes opções à disposição do nosso mercado.
Porém, antes de apresentar o modelo é preciso fazer um agradecimento. É destinado à concessionária Kawasaki Green Point, de Porto Alegre (RS), que prontamente cedeu a unidade testada. Uma moto novíssima, com menos de 10 km marcados no odômetro, aliás.
Começamos esclarecendo um ponto. É comum vermos pessoas em dúvida quanto ao que é uma moto naked retrô e o que é uma clássica, algo totalmente aceitável diante das semelhanças e muitos lançamentos que estão acontecendo. E a 650 RS, é o quê?
A grosso modo, as motos clássicas são herdeiras do passado e assim mantêm as mesmas características de modelos dos anos 1950 e 1960, por exemplo. É como se seguissem a mesma receita, apenas atualizando-a com ingredientes que estão disponíveis somente agora (como injeção eletrônica, ABS, luzes em LED). Logo, o comportamento remete em partes às motos antigas. É o caminho que seguem modelos como Triumph Speed Twin e Royal Enfield Classic 350, por exemplo.
E tem as naked com visual retrô. Essas são verdadeiras nakes modernas, com performance e ciclística derivadas diretamente das esportivas contemporâneas. Aqui, a alusão ao passado é meramente estética. É o caso das Kawasaki Z 650 RS e Z 900 RS.
A Z 650 RS foi apresentada ao mundo em setembro de 2021, chegando ao Brasil no segundo semestre de 2022. Ela deriva diretamente da Z 650, naked lançada em 2017 para substituir a ER-6N.
Assim, compartilha uma extensa lista de componentes com a irmã ‘moderna’. Entre eles está o motor, de 2 cilindros em linha, DOHC, arrefecimento a líquido, 649 cc. Ele entrega 68 cv de potência e 6,7 kgf.m de torque máximos, a 8.000 e 6.500 rpm. Isso para empurrar cerca de 175 kg a seco.
O câmbio é de 6 velocidades e conta com embreagem assistida e deslizante. O chassi tem formato de treliça, feito aço de alta resistência. A suspensão dianteira é telescópica com tubos de 41 mm e atrás tem back-link horizontal, com pré-carga ajustável. Os pneus são medidas 120/70 R17 e 160/60 R17. Já os freios contam com discos duplos de 300 mm na frente e simples de 220 mm na traseira.
Não por acaso, a Z 650 RS tem praticamente as mesmas dimensões da naked padrão, com 1.405 mm de entre eixos, 125 mm de altura do solo e 2.065 mm de comprimento. Ou seja, é 1 cm mais longa; 0,5 cm mais perto do chão e tem entre eixos 0,5 cm menor que a Z 650. Também tem assento 1 cm mais alto, a 800 mm do solo.
O visual da Z 650 RS é inspirado na 900 RS, lançada alguns anos antes. Ele cumpre com maestria seu papel, remetendo a clássicos modelos Kawasaki dos anos 1970. Assim, o design é um verdadeiro imã e atrai olhares por onde passa. Acredito que fui abordado por curiosos em literalmente todas paradas que fiz durante o teste.
Além do conceito de design, esse interesse é mérito do excelente nível de acabamento. A 650 RS é muito bonita, com detalhes interessantes (como os logotipos da marca e modelo em estilo retrô) e plásticos de qualidade. Outra atração é a pintura perolizada, que ganha brilho especial sob o sol. Esse efeito fica ainda mais nítido na cor verde / Candy Emerald Green (lembrando que também há o cinza / Metallic Moondust Gray).
Bastam poucos metros para notar que a Z 650 RS é, literalmente, uma naked moderna apenas vestida de moto retrô. A aceleração linear, o torque de grudar no banco e a estabilidade irrepreensível deixam claro que se está acelerando uma Z atual. E essa receita só poderia dar numa coisa: diversão.
Na estrada, a naked sobe a rotação rapidamente, sem sustos ou engasgos. O motor vibra pouco e tem um som grave que convida a acelerar, especialmente com o punho aberto e após os 6 mil rpm. Com bons números de potência e torque, o ganho de velocidade é rápido e quase imperceptível. Poucos segundos e uma marcha depois e já vemos o ponteiro analógico passar dos 140 km/h.
E é confortável. A posição de pilotagem ‘mais clássica’ é um diferencial da versão RS e um interessante ponto positivo. O guidão recuado em alguns milímetros e o ponto de fixação das pedaleiras resultam numa posição natural, com as costas eretas, peito aberto e pernas levemente flexionadas. Mesmo mantendo um leve toque de esportividade, é uma posição relaxada. Assim, é possível rodar centenas de quilômetros sem qualquer fadiga – na ‘perna’ mais longa do teste fiz quase 500 km num dia, sem qualquer cansaço inesperado.
Apesar de voltada ao uso em estradas, a 650 RS não decepciona nas cidades. Pelo contrário. A posição de pilotagem confortável tem o bom banco como aliado. Já as suspensões são firmes sem serem duras. O motor é progressivo e previsível, sem passar sustos, mesmo sobre asfalto ruim.
Outro ponto positivo é a posição dos comandos nos punhos, todos a fácil alcance dos dedos. Entretanto, o guidão podia esterçar um pouco mais, para facilitar manobras entre os carros parados ou estacionar.
Hora de falar dos sempre requisitados top speed e consumo. Segundo a própria Kawasaki, a velocidade máxima atingida pela Z 650 RS é 191 km/h reais, cerca de 200 km/h no painel de ponteiros.
Já o consumo médio ficou na casa dos 23 km por litro em nosso teste, especialmente em aceleração constante na rodovia. Se o piloto usar o modo eco a seu favor, pode alcançar médias perto dos 27 km/litro rodando logo abaixo dos 100 km/h. Em tocada esportiva, registramos 13,5 km/litro.
Como já destacado, entre os principais atributos dessa Kawasaki estão o comportamento de seu motor e ciclística. É uma moto previsível e segura, mas com tocada que diverte e até emociona. Acelera rápido, vibra pouco, não ameaça perder a direção, exatamente como tem de ser. Além do desempenho, agrada pelo baixo consumo.
Também é preciso ressaltar os freios, sensíveis e precisos; e o bom nível de conforto, que permite rodar por horas sem fadiga – algo raro de se ver nas nakeds atuais, aliás. Ainda, recebe nota azul para o visual e acabamento.
Com vocação para longos passeios de final de semana e até viagens, a Z 650 RS merecia um tanque maior, que lhe garantisse mais autonomia. Como está, o modelo ‘entra na reserva’ com menos de 200 km rodados e obriga parada para reabastecimento. É pouco.
Outros detalhes enriqueceriam ainda mais o conjunto. O controle de tração traria mais segurança em pisos escorregadios, especialmente para pilotos menos experientes; assim como um painel com brilho LCD ajustável garantiria melhor leitura em cenários adversos. Como é um moto premium, poderia ter mais ajustes nas suspensões, incluindo pré-carga na dianteira.
Por fim, a Z 650 padrão tem alguns recursos ausentes na RS. É o caso da tela TFT e do sistema de conectividade. Não que façam falta numa moto com apelo retrô, mas é curioso vê-los apenas na irmã que custa menos. Aliás, no exterior, a RS deve ganhar controle de tração e outras novidades em breve.
O preço sugerido pela marca no modelo é R$ 47.990, já nas lojas costuma ser encontrada por aproximadamente R$ 50.149, segundo a Fipe. Está disponível em duas versões de cores, a cinza (Metallic Moondust Gray) e a verde (Candy Emerald Green) vista nesse teste. Para comparação, a Z 650 padrão tem PPS de R$ 45.990 e nas concessionárias costuma sair por R$ 48.445.
A Z 650 RS está numa posição curiosa no mercado, num nicho (retrô) de um nicho (naked) específico do segmento duas rodas. Por isso, é delicado compará-la a outras naked ‘tradicionais’ à venda nesta faixa de preço, como Triumph Trident 660, Yamaha MT-07 e até a própria Kawasaki Z 650. Afinal, a RS tem uma prospota própria, voltada à quem curte a influência setentista, mas sem abrir mão do desempenho de uma naked contemporânea.
Além de estilosa (para quem curte o design, claro), tem comportamento à altura da proposta. É uma ‘moto para quem gosta de moto’, competente em todos os quesitos, incluindo aceleração, estabilidade, frenagem e conforto. Também é agradável para quem vai na garupa, oferecendo bom espaço no banco e para as pernas – só falta alças laterais.
Além disso, é uma moto ‘na medida’, com desempenho que diverte e até emociona. Algo não encontrado nas pequenas, onde falta potência, e igualmente ausente nas grandes (de 1.000 cc, por exemplo), onde é preciso dosar o comportamento em tempo integral em estradas e demais vias abertas.
É, portanto, uma boa opção para quem busca uma moto para passeios de final de semana e até viagens, oferecendo desempenho, economia e bom nível de conforto. Se você curte os charmosos farol e espelhos redondos, talvez deva dar uma chance à essa japonesa.
Para saber mais acesse: Ativa Consórcios